Foi uma semana difícil pra todas...
[Alice]
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[Alice]
Às vezes dizem-nos que navegamos entre o feminismo 'sério', aquele que se ocupa de assuntos laborais ou da violência contra as mulheres e uma deriva suave por tópicos irrelevantes: questões de linguagem, depilação, piropos e outros temas menores. Curiosamente, toda a gente parece ter a sua própria organização hierárquica daquilo que deve ser a luta feminista, sempre separando os bons temas dos maus assuntos, os que importam dos que nos desviam da seriedade e afastam potenciais aliados.
Nos Memes Feministas temos sensibilidades diversas, mas todas recusamos a hierarquia de opressões e a segmentação artificial entre o que importa e o que é acessório, como se os fenómenos sociais não fossem totais, cada questão uma face da mesma opressão. Nesta linha de pensamento, queremos hoje refletir sobre dois temas que têm estado na ordem do dia e que são recorrentemente despachados como irrelevantes ou, pior, prejudiciais à unidade da luta (LOL): os conceitos de linguagem inclusiva e de lugar de fala.
DO PODER DAS PALAVRAS
A linguagem tem poder, ela espelha e simultaneamente reproduz as estruturas de opressão. As marcas de discurso machistas (ou racistas ou homofóbicas) são interiorizadas desde a primeira infância e concorrem para que as estruturas de opressão se mantenham, normalizando a subjugação da mulher, expressa com naturalidade nas palavras que usamos quotidianamente.
A adopção deliberada de uma linguagem inclusiva contribui para a desconstrução da hegemonia masculina, combatendo as opressões interiorizadas e, simultâneamente, assegurando a visibilidade e a representatividade da luta feminista. E é por isso que qualquer movimento revolucionário deve usar linguagem inclusiva, sem prejuízo de outras estratégias e táticas de luta.
É certo que a utilização da linguagem inclusiva representa uma modificação ao uso tradicional da língua; mais uma, porque a lingua é um fenómeno vivo. É também certo que pode tornar a leitura morosa ou soar bizarra, usando, por vezes, termos ou mesmo caracteres excêntricos. É também verdade que algumas modalidades de linguagem inclusiva pecam por binárias ou por, na sua densa codificação, afastarem quem não está familiarizada com a discussão. No entanto, rejeitamos uma visão estática ou paternalista que se detém ante estas dificuldades, reclamamos a necessidade de discussão em torno das diferentes propostas de linguagem inclusiva, em busca de modelos escorreitos, fluentes e acessíveis. Desdobrar ou alternar géneros, utilizar termos neutros, adoptar grafias alternativas, todas estas opções podem fazer sentido consoante o contexto de fala.
DO LUGAR DE ONDE SE FALA
Lugar de fala é, acima de tudo, um conceito sociólogico, que nos permite refletir sobre o lugar de onde se fala, algo obviamente relevante para a correta compreensão e avaliação do discurso. Negar isso à partida será negar a relevância de qualquer categoria social, género e classe incluídos.
Nesse sentido, o lugar de fala é uma ferramenta que nos permite perceber o contexto em que as palavras são produzidas. Tem uma utilidade politica óbvia, que é a da autonomia: as mulheres, por experimentarem na pele a opressão machista falam sobre ela de um lugar diferente dos homens, da mesma forma que alguém que se tenha dedicado a estudar um tema fala sobre ele de uma forma necessariamente distinta de quem apenas tem uma visão impressionista sobre o assunto. Nesse sentido, e acreditando que as classes oprimidas devem ser sujeito da sua própria libertação, o conceito de lugar de fala surge como determinante para identificar o lugar das vanguardas na luta.
O que o lugar de fala não pode ser, é uma propriedade, algo que se possua. Libertemo-nos do fetichismo da propriedade. Também não pode ser uma ferramenta para silenciar ninguém, nem um instrumento para afastar pessoas. A luta é de todas, a luta é de todos, todas as palavras devem ser ouvidas mas nem todas têm a mesma relevância a cada momento.
Dito isto, é ridiculo acreditar naquilo que os detratores do conceito de lugar de fala feminista parecem insinuar existir: hordas de homens extremamente comprometidos com o movimento a serem sistemáticamente impedidos de falar por não terem lugar de fala, arredados da luta, incapazes de contribuir para a transformação social. Essa multidão oprimida não existe. Poupem-se. Poupem-nos.
[Alice]
Parte 2 - O Regresso do Esquerdomacho
Marquem o vosso esquerdomacho preferido!
[Alice]
Parte 1
[Alice]
Hoje falamos de TRABALHO para lembrar a discriminação das mulheres no mercado laboral, seja pela desigualdade salarial, seja pela concentração das mulheres nos postos de trabalho e setores de atividade menos valorizados. Lutamos pela mudança radical das relações de produção e pela conquista de direitos para toda a classe trabalhadora, não esquecendo que feminismo e luta de classes andam a par e passo. Reivindicamos ainda a extensão dos direitos laborais a todas as trabalhadoras, nomeadamente no âmbito do trabalho sexual e do trabalho doméstico não pago.
Não é que não gostemos de flores, simplesmente, preferimos direitos.
[Alice]
Saudações feministas, camaradas!
Para celebrar o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora iniciamos hoje uma semana de posts diários, cada dia devotado a um tema diferente.
Começamos com o tema da Interseccionalidade. Porque o feminismo tem de estar na vanguarda da luta contra todas as opressões e lutar pelas mulheres exploradas, proletárias, imigrantes, não brancas, trans, com todas as orientações sexuais possíveis!
Rejeitamos liminarmente o feminismo burguês liberal branco e reafirmamos aqui o nosso compromisso: feminismo que não é para todas as mulheres não nos serve!
[Alice]
E por falar em flagelo... Que fazer quando as feministas estão a estragar o romance, o amor, o sexo e até a pura amizade entre colegas de trabalho com as suas reivindicações ridículas de assédio?! Qualquer dia não posso dizer olá a uma mulher, porra!
[Alice]