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Mulheres de Armas

Mulheres de Armas

29
Abr18

Trabalho doméstico e prestação de cuidados

Mulheres de Armas

Uma das desigualdades mais evidentes, enraizadas e transversais do sistema patriarcal é a assimetria na realização do trabalho doméstico e na prestação de cuidados a ascendentes e descendentes, pese o fato de termos vivido nas últimas décadas uma evolução a este nível, que resulta, apesar de tudo, em significativas diferenças geracionais e sociais.

As soluções encontradas por uma parte significativa dos casais heterossexuais, principalmente de classe média, que passam, em larga medida, pela externalização destas funções, é claramente insuficiente: (1) é fortemente baseada na contratação massiva de mulheres trabalhadoras (empregadas domésticas, amas, trabalhadoras de creches e infantários) em condições geralmente extremamente precárias e indignas; (2), promove uma institucionalização precoce das crianças com consequências penalizadoras para o desenvolvimento infantil; (3) tende a minorar mas não solucionar o problema: as mulheres continuam a assumir a maior parte da carga de gestão da unidade doméstica e isso continua a afetar negativamente a sua vida profissional.

Por outro lado, a tendência, inclusive nalguns setores do feminismo, de interrupção da vida profissional para prestação de cuidados aos filhos, cria uma profunda assimetria económica no seio do casal e uma dependência financeira da mulher que se traduz na impossibilidade de autonomização, mesmo em contextos de violência declarada.

Este diagnóstico torna visível que a solução deste problema passa por uma revolução mais profunda na nossa propria relação com o mundo do trabalho e com o espaço privado da família, libertando-nos de alguns pressupostos fundamentais do capitalismo. Algumas coisas que urge fazer:

1. Destruição da hierarquia de valores que coloca o trabalho assalariado como atividade produtora de valor, por contraponto ao trabalho doméstico e à prestação de cuidados, vistas como atividades menores e complementares, da esfera privada.

2. Atribuição de condições laborais e remuneratórias justas e equiparadas a todos os setores laborais, sejam de serviços ou produção.

3. Abandono da figura ideal-tipica do bom trabalhador, construída à imagem do trabalhador (homem) que pode construir uma carreira sem interrupções, licenças nem ausências para apoio a família.

4. Reconhecimento das unidades domésticas como unidades de produção e atribuição de valor ao trabalho doméstico, mediante, por exemplo, a atribuição de remuneração fixa ou de licenças extensas pagas para cuidados à primeira infância ou a qualquer outro dependente, a pessoas de qualquer género que cumpram estas funções.

5. Abandono do fetichismo pelas longas horas de trabalho e pelos horários fixos, proporcionando a todos os trabalhadores e trabalhadoras horários sempre que possível flexíveis e que lhes permitam ter tempo para gerir outros contextos de trabalho.

6. Desconstrução dos papéis de género que atribuem à esmagadora maioria das mulheres umas dupla jornada de trabalho e uma responsabilidade acrescida pela gestão da unidade doméstica.

7. Criação de estruturas coletivizadas de prestação de serviços neste âmbito, acessíveis de forma flexível a toda a gente, e geridas pelos trabalhadores e trabalhadoras, que, no caso dos cuidados à infância e terceira idade devem assegurar um rácio razoável de cuidadores/as por utilizador/a, entre outras condições básicas materiais e emocionais.

Sem este tipo de mudança social, verdadeiramente revolucionária, nunca conseguiremos mais do que empurrar o problema de uns setores da sociedade para outros, em processos de autonomização fictícios construídos à custa da liberdade e autonomia da outra: mulheres, crianças, idosos, trabalhadoras dos serviços...

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[Daenerys]

07
Abr18

As várias faces da maternidade

Mulheres de Armas

Ainda sobre o texto das Capazes: uma reflexão sobre as várias faces da maternidade.

1. A romantização da maternidade é algo extremamente pernicioso, que, como feministas, precisamos desconstruir. A ideia de que a vida prossegue exatamente como antes e que a maternidade é uma auto-estrada de felicidade extasiante, ignorando todo o cansaço, sofrimento, sujidade e dor que lhe podem estar associadas é extremamente perigosa. 

2. O body shaming na maternidade assume contornos absolutamente assustadores, com a obsessão pela recuperação do corpo (como se fosse algo que tivéssemos perdido e não fosse sempre nosso) e o mito de que a mãe se deve 'cuidar' (sendo que cuidar é sempre cumprir aquilo que a sociedade espera de nós e não aquilo que nós desejamos).

3. Dito isto, ninguém ganha pontos por sofrer mais, ter menos tempo livre, mais dificuldade em fazer coisas que fazia antes e uma transformação pessoal mais profunda.

4. Ou seja, não somos melhores mães nem melhores mulheres por sermos magras e usarmos maquilhagem mas também não somos melhores mães e mulheres por estarmos gordas e não usarmos maquilhagem. Será mesmo preciso escrever isto? Tirem as vossas mãos dos nossos corpos de uma vez por todas.

5. Reduzir isto a uma escolha é, na melhor das hipóteses, de uma ingenuidade estrondosa, que ignora todos os condicionantes sociais e psicológicos que enformam a maternidade. A experiência da maternidade é uma experiência individual, de diversidade de opções igualmente legítimas e que devem ser tão livres quanto possível mas é também uma experiência psicológica e social, que vai depender, em larga medida, do contexto e dos capitais económicos e relacionais de cada uma de nós.

[Daenerys]

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03
Mar18

MATERNIDADE

Mulheres de Armas

E hoje falamos de MATERNIDADE para recordar que toda a mulher tem o direito inalienável de escolher se, quando e como se tornar mãe. O que passa por acesso a educação sexual e planeamento familiar; a métodos seguros de interrupção voluntária da gravidez; a um parto livre de violência obstétrica; a informação completa sobre amamentação; a cuidados médicos adequados e a todos os direitos que garantam a protecção laboral e económica da mãe, assegurando simultaneamente a prestação de cuidados continuados à criança nos primeiros anos de vida.

Os nossos corpos, as nossas escolhas, as nossas vidas nas nossas mãos.

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[Daenerys]

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