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Mulheres de Armas

Mulheres de Armas

30
Abr18

Trabalho sexual

Mulheres de Armas

Antes de mais, há que proceder a uma desmistificação: nem só a prostituição é trabalho sexual. Entenda-se o trabalho sexual como uma prestação de serviços, que pode passar desde as linhas telefónicas eróticas até à pornografia e à prostituição.
Em segundo lugar, parece-nos que demasiadas vezes as questões relacionadas com o trabalho sexual são debatidas à revelia dos principais interessados, ou seja, dos próprios trabalhadores do sexo. Enquanto assim for, a possibilidade de ideias erróneas ganharem terreno e do debate não ir de encontro às reais necessidades de quem trabalha é acrescida.

Mais uma vez, assumimos a nossa posição como descentrada, sem lugar de fala na primeira pessoa. Contudo, o tema é um ponto de clivagem demasiado importante para não o trazermos a este espaço.

É nossa pretensão discutir o tema com pragmatismo e seriedade, colocando moralismos e falsas questões que reproduzem o estigma negativo e a vergonha habitualmente associados ao trabalho sexual de parte. Recordamos a reivindicação primária do feminismo: o meu corpo, as minhas regras. Usufruir do próprio corpo como cada um entender, nomeadamente para obter lucro, é um direito individual inalienável. No limite, acreditamos que a esmagadora maioria de trabalhadores do sexo exerçam a sua actividade enquanto último recurso. Não acreditamos é que seja aceitável que o trabalho sexual, sobretudo enquanto forma de subsistência particularmente insegura e exposta a múltiplos e sérios riscos, seja criticado moralmente e de arrasto os trabalhadores sejam culpabilizados e vedados a condições dignas do exercício da sua actividade. Não aceitamos que a estas pessoas sejam negados os direitos mais básicos que assistem aos demais trabalhadores: o direito a protecção social, o direito a sindicalização, à greve, a férias, etc.

Nesta, como em tantas outras questões, é relativamente fácil cair na crítica fácil, imponderada e de laivos puritanos, quando o ponto de partida para essa crítica é toldado por um privilégio económico e social. É fácil encher a boca de lugares comuns que visam reduzir o trabalho sexual a algo de sujo e imoral quando a urgência e a necessidade nunca bateram à porta. “Vender o corpo” no trabalho sexual não é assim tão diferente - a não ser pela moral sistémica do patriarcado burguês - de outro trabalho. Seja um trabalho físico ou intelectual, o que os trabalhadores vendem aos seus empregadores é o seu tempo de trabalho, sendo que este pode advir da expressão mais directa ou indirecta do seu corpo.

Por muito que queiramos derrubar o capitalismo, é num mundo (ainda) capitalista que vivemos. Achar que o enquadramento legal do trabalho sexual é suficiente ou que a sua regulamentação é abrir a porta à legalização do lenocínio é equivalente a não reivindicar melhores salários porque no nosso mundo ideal os salários seriam inexistentes. Estamos, obviamente, mobilizadas a 100% contra o tráfico de pessoas a exploração de qualquer natureza, incluindo o lenocínio. Assim, mobilizamo-nos também a favor do direito à auto-gestão do trabalho sexual, bem como à garantia de condições de segurança, higiene, remuneração justa, protecção social, descanso e lazer para todos os trabalhadores, independentemente da sua actividade.

Por fim, uma palavra de repúdio ao sistema patriarcal de moral putrefacta que tendencialmente desumaniza o trabalho sexual e o conota com princípios opostos à dignidade e à seriedade, com vergonha, com o crime, com miséria e com dependências. Esse mesmo sistema patriarcal que não se coíbe de objectificar o corpo feminino ou de colocar padrões de beleza irreais ao serviço dos mercados e do consumo desenfreado e que se escandaliza com a força de trabalho a gerar riqueza para si própria é o inimigo. E será derrotado! 

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[Frida]

29
Abr18

Trabalho doméstico e prestação de cuidados

Mulheres de Armas

Uma das desigualdades mais evidentes, enraizadas e transversais do sistema patriarcal é a assimetria na realização do trabalho doméstico e na prestação de cuidados a ascendentes e descendentes, pese o fato de termos vivido nas últimas décadas uma evolução a este nível, que resulta, apesar de tudo, em significativas diferenças geracionais e sociais.

As soluções encontradas por uma parte significativa dos casais heterossexuais, principalmente de classe média, que passam, em larga medida, pela externalização destas funções, é claramente insuficiente: (1) é fortemente baseada na contratação massiva de mulheres trabalhadoras (empregadas domésticas, amas, trabalhadoras de creches e infantários) em condições geralmente extremamente precárias e indignas; (2), promove uma institucionalização precoce das crianças com consequências penalizadoras para o desenvolvimento infantil; (3) tende a minorar mas não solucionar o problema: as mulheres continuam a assumir a maior parte da carga de gestão da unidade doméstica e isso continua a afetar negativamente a sua vida profissional.

Por outro lado, a tendência, inclusive nalguns setores do feminismo, de interrupção da vida profissional para prestação de cuidados aos filhos, cria uma profunda assimetria económica no seio do casal e uma dependência financeira da mulher que se traduz na impossibilidade de autonomização, mesmo em contextos de violência declarada.

Este diagnóstico torna visível que a solução deste problema passa por uma revolução mais profunda na nossa propria relação com o mundo do trabalho e com o espaço privado da família, libertando-nos de alguns pressupostos fundamentais do capitalismo. Algumas coisas que urge fazer:

1. Destruição da hierarquia de valores que coloca o trabalho assalariado como atividade produtora de valor, por contraponto ao trabalho doméstico e à prestação de cuidados, vistas como atividades menores e complementares, da esfera privada.

2. Atribuição de condições laborais e remuneratórias justas e equiparadas a todos os setores laborais, sejam de serviços ou produção.

3. Abandono da figura ideal-tipica do bom trabalhador, construída à imagem do trabalhador (homem) que pode construir uma carreira sem interrupções, licenças nem ausências para apoio a família.

4. Reconhecimento das unidades domésticas como unidades de produção e atribuição de valor ao trabalho doméstico, mediante, por exemplo, a atribuição de remuneração fixa ou de licenças extensas pagas para cuidados à primeira infância ou a qualquer outro dependente, a pessoas de qualquer género que cumpram estas funções.

5. Abandono do fetichismo pelas longas horas de trabalho e pelos horários fixos, proporcionando a todos os trabalhadores e trabalhadoras horários sempre que possível flexíveis e que lhes permitam ter tempo para gerir outros contextos de trabalho.

6. Desconstrução dos papéis de género que atribuem à esmagadora maioria das mulheres umas dupla jornada de trabalho e uma responsabilidade acrescida pela gestão da unidade doméstica.

7. Criação de estruturas coletivizadas de prestação de serviços neste âmbito, acessíveis de forma flexível a toda a gente, e geridas pelos trabalhadores e trabalhadoras, que, no caso dos cuidados à infância e terceira idade devem assegurar um rácio razoável de cuidadores/as por utilizador/a, entre outras condições básicas materiais e emocionais.

Sem este tipo de mudança social, verdadeiramente revolucionária, nunca conseguiremos mais do que empurrar o problema de uns setores da sociedade para outros, em processos de autonomização fictícios construídos à custa da liberdade e autonomia da outra: mulheres, crianças, idosos, trabalhadoras dos serviços...

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[Daenerys]

08
Mar18

...

Mulheres de Armas

Contra um patriarcado que objectifica e explora o corpo feminino ao mesmo tempo que impõe códigos de conduta puritanos e avalia a conduta sexual feminina em padrões distintos da masculina, exigimos liberdade! Liberdade contra todo o abuso sexual e liberdade para dispormos dos nossos corpos como quisermos. Que não sejamos mais carne subjugada no mercado machista e que não sejamos obrigadas a seguir regras normativas que constrangem a livre expressão da sexualidade. Por um mundo onde caibam todos os tipos de relacionamentos e onde sejamos, verdadeiramente, donas dos nossos corpos!

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[Frida]

05
Mar18

Agressões de género

Mulheres de Armas

Hoje queremos evidenciar as múltiplas camadas de que se revestem as agressões de género. Começamos pela invisibilização tácita dos géneros não masculinos na sociedade patriarcal, que atravessa os meios de comunicação, a produção de entretenimento, a publicidade, até à desvalorização das agressões físicas e psicológicas com a perpetuação de humor machista ou com uma frequente dependência económica, fruto de um sistema capitalista opressor e misógino, que tantas vezes inibe a denúncia.
A desvalorização ou normalização de abusos psicológicos, ataques à auto-estima e ao respeito próprio, a culpabilização das vítimas de abuso continuam a ser tónica permanente em pleno século XXI, inegavelmente presentes sob a forma de machismo institucional, de moralização ou de desculpabilização de crimes.
Condenamos com veemência qualquer forma de agressão contra as mulheres, lutaremos de punho erguido contra o patriarcado, por uma justiça que proteja vítimas e condene criminosos! Não toleramos nem mais uma vítima! Não calaremos! 

 

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25
Jan18

Virginia Woolf

Mulheres de Armas

No 136.º aniversário do nascimento da escritora inglesa Virginia Woolf, lembramos que também nas artes o reconhecimento das Mulheres é transversalmente desigual, seja na literatura, artes plásticas, cargos de direcção em museus ou por onde quer que se olhe. Por exemplo, apenas 14 mulheres venceram o Prémio Nobel da Literatura em 109 edições (cerca de 13%)!
Mais de um século depois, é de punho erguido contra o patriarcado que recordamos as ainda actuais palavras de Virginia Woolf. Não calamos! 

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[Frida]

09
Jan18

...

Mulheres de Armas

Na reportagem passada na SIC a 05/01 acerca da primeira mulher a frequentar o curso de especialização de submarinos, a abordagem principal ao tema foi feita através da exploração do prisma do papel da mulher no seio familiar, enquanto mãe e esposa, dando grande relevância à “conciliação da vida pessoal” e ao apoio do marido, enquadrando o tema com imagens da militar a acompanhar o filho na escola ou em casa, na cozinha.
Lamentamos que a comunicação social contribua activamente para a perpetuação dos estigmas associados a papéis de género tão entranhados na sociedade patriarcal, sobretudo quando poderia ter aproveitado a oportunidade, por exemplo, para questionar porque motivo só agora a Marinha Portuguesa abriu vagas para este curso às pessoas de todos os géneros.
Está na hora de exigir que os media deixem de tratar com condescendência paternalista quem questiona os papéis de género! Não calaremos! 

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[Frida]

08
Jan18

Frida

Mulheres de Armas

Uma nova camarada juntou-se às fileiras dos Memes Feministas!
A camarada Frida é movida pelo desejo de Revolução e incita-nos a denunciar abertamente a sociedade patriarcal em todas as suas manifestações e percepções, a lutar pela igualdade de todas as pessoas, pelas liberdades sexuais e individuais de cada uma e pela queda das expectativas do “ideal feminino”. Não calaremos! Não baixaremos os braços! Venceremos!

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03
Jan18

Resoluções de Ano Novo das camaradas dos Memes feministas

Mulheres de Armas

✓ Amar o nosso corpo seja ele como for
✓ Não dar biscoito a esquerdomacho
✓ Incluir diversidade na luta feminista, porque o feminismo só é feminismo se for para todas as mulheres
✓ Combater ativamente o patriarcado
✓ Publicar mais memes
✓ Sair da página de memes e promover ativamente ações feministas

Digam-nos o que esperam de nós para 2018 e partilhem as vossas resoluções de ano novo. 

A luta continua, a vitória será nossa! 

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[Buffy]

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